Oiê pessoal!
Semana passada um acontecimento me deixou meio perplexa e, somado a tantos outros fatos, acabou me inspirando a escrever essa reflexão.
Primeiro vou explicar o ocorrido: eu e meu marido fomos ao cinema e resolvemos ficar na fila da pipoca. Só dois caixas estavam funcionando e as duas filas estavam imensas. Após 30 minutos de espera, eu e meu marido resolvemos nos separar para que cada um ficasse em uma fila diferente, visto que a fila do lado parecia estar andando mais rápida – sempre acontece isso comigo! Acontece com vocês também?
Então surgiram duas crianças atrás de mim, também querendo comprar pipoca. Minha sessão já estava quase na hora e a minha vez na fila parecia estar bem distante, não pela quantidade de pessoas, mas sim pela lentidão do atendimento. Confesso que já estava ficando um tanto irritada com a situação.
De repente uma das crianças me cutuca. “Moça, você está na fila?”. A minha vontade imediata foi responder “Não! Eu sou uma projeção holográfica que está há mais de 30 minutos esperando aqui na sua frente só pra irritar quem está na fila!”, mas eu respirei fundo e pensei “Puxa Luciene, como você é má! São apenas crianças que acabaram de chegar na fila e estão impacientes porque vão ao cinema! Vamos tratar com respeito, abrir um sorrisão e responder com educação e simpatia”. Foi o que fiz. Mesmo sem estar nem um pouco contente com a demora e estressada por esperar tanto tempo, abri um sorriso e respondi que estava na fila.
Mas aí, fui surpreendida! Uma criança virou para a outra e falou “Aff! Essa aí também está na fila! Eu acho que criança tinha que ser atendida primeiro por direito. Eu só tenho 6 anos e você também! Nós tínhamos que passar na frente de todos”.
Naquela hora eu fiquei perplexa mesmo. Não me levem à mal! Eu amo crianças! Acho que elas são a esperança do futuro… Mas, de coração, aquelas duas crianças não são uma boa esperança! Ao ouvir aquele raciocínio – nem um pouco lógico, diga-se de passagem – eu fiquei imaginando: o que nós estamos fazendo com as nossas crianças?! Que monstros estamos criando? Por que raios aqueles dois garotos achavam que tinham “direito” de passar na frente de tantas pessoas que estavam na fila há muito tempo, antes mesmo deles chegarem? Que valores estamos transmitindo? Que noção de certo e errado os futuros adultos terão?
Aí minha cabeça foi à mil! Pensei em cada polêmica existente no mundo social atual e comecei a refletir sobre os acontecimentos. Aquela criança sabe o que significa a palavra “direito” e pelo jeito a emprega e a entende de modo muito errado. Mas será que ela sabe o significado da palavra “dever”?
Uma vez vi uma entrevista com um rapper na TV – não me lembro o nome dele – e ele comentou algo que me fez pensar bastante. Ele disse que na época dele ninguém falava de bullying, mas ele existia. Tanto que o próprio rapper recebia apelidos nem um pouco agradáveis. Ele prosseguiu dizendo que aprendeu a lidar com a situação, a resolver o problema dentro dele mesmo, pensando em se valorizar em detrimento do que diziam dele. E que hoje as crianças não são mais assim, elas simplesmente se fazem de vítima, procuram seus “direitos” e não resolvem o problema interior de fato.
Na época que ouvi não sabia bem o que pensar sobre o assunto. Acho que todo mundo já sofreu bullying em algum momento da vida. E de fato quando eu sofri, contei para minha mãe que me deu o apoio que me fazia falta. Aprendi a ignorar os comentários e a ver as coisas “Por Outro Lado“. Pensava “às vezes a pessoa que está me ofendendo na verdade é quem está com problemas”. Também sei que muitas pessoas sofrem caladas e deixam isso afetar a vida delas posteriormente, o que causa muitos traumas. Tem até casos mais graves, que envolvem ameaças e agressões físicas… Então pensei que talvez ele estivesse certo, talvez não. Dependia do ser humano que estivesse passando a situação. A única coisa certa é que bullying / preconceito não deveria existir na face da Terra.
O acontecimento na fila da pipoca me fez lembrar do que esse rapper disse, que as crianças hoje se fazem de vítima e ficam atrás dos seus “direitos”… E comecei a pensar que as crianças conhecem muito os tais “direitos” delas, mas pelo jeito exercem pouco os “deveres”. Ou melhor, não são nem um pouquinho estimuladas a exercer seus deveres. Caso contrário a criança ficaria um tanto sem graça de falar algo do gênero.
Supondo que esse menino chegue na fase da adolescência achando que pode tudo e mais um pouco, ele vai se tornar tão egoísta a ponto de pensar apenas em si mesmo e esse sentimento tão medíocre é capaz de levá-lo ao tráfico de drogas. O que ele vai pensar? “Oportunidade ótima! Não é problema meu se o outro vai ficar viciado e eu vou acabar com a vida dele! Eu estou ‘me dando bem'”. Sim… Ele pode chegar a pensar que está “se dando bem”, mesmo que isso seja mentira. Aí ele acaba se envolvendo no crime e mata uma pessoa por causa de uma dívida de R$20,00. O que ele vai pensar? “Sou menor de idade! Sei o meu direito! Não posso ser preso e é isso que importa”… Ele não vai pensar que ao tirar o direito de outra pessoa viver ele deveria perder os “direitos” que ele tanto preza desde cedo.
Claro que esta situação é hipotética, mas infelizmente bem provável de acontecer. E o pior é que não estou sendo dramática.
Tem uma outra coisa que sempre me martelou na cabeça: os erros que cometemos no passado servem para nos ajudar no presente e no futuro, certo? Certo. Então alguém me explica por que algumas pessoas continuam pensando que os erros de antigamente devem ser repetidos pela posteridade até virarem uma grande bola de neve cheia de rancor e ressentimento capaz de exterminar a raça humana? Essa coisa de direito e dever hoje em dia também está interligada com o assunto de etnias. Vamos fazer uma breve viagem na História: certa etnia pensava que devia ter mais direitos em relação a outra etnia. Para fazer seus “direitos” valerem ela se aproveitava de leis criadas em seu benefício para soar “menos errado” o que iria fazer: se dar bem a custa da outra etnia, conquistar vantagens elegíveis apenas à sua etnia, fazer uso da outra etnia para ascender profissionalmente, socialmente e pessoalmente. Pergunto: será que esta atrocidade só representa o passado ou também está se repetindo no presente?
Acho que talvez devêssemos, enquanto sociedade, falar de deveres tanto quanto de direitos. Temos o dever de respeitar o próximo – o que inclui os mais velhos! – temos o dever de nos colocar no lugar do outro, temos o dever de fazer nossos direitos não invadirem os direitos dos outros, temos o dever de não fazer com os outros o que não queremos que façam conosco, temos o dever de tratar todos igualmente, temos o dever de não furar fila…
O pensamento poderia ter ido mais adiante, mas a minha vez de pegar a pipoca chegou.
Até a próxima! *Hoot-hoot*
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